segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sobre a Marginal Tietê


O resumão é o seguinte: estão ampliando a Marginal Tietê.
Os odiadores de trânsito estão felizes: o trânsito fluirá melhor.
Os construtores estão felizes também: há mais coisas para destruir para construir outra em cima.
As pessoinhas também estão felizes: o governo está preocupado com seu bem estar.
Os adoradores de árvores estão preocupados e sentidos: estão derrubando indefesas árvores centenárias para essa obra.

O resumão "impessoal" é esse, se quiser ler mais tem um monte de blogs verdes explicando tudo bem melhor, do tipo esse, esse outro, esse aqui que é pop e esse que é bonito e que não é um blog.

De qualquer modo, a versão não impessoal é a seguinte: o governo só caga e senta em cima e não sabe gastar bem o nosso dinheiro, o trânsito de São Paulo é uma merda, está mais que saturado, não vai ser uma faixinha a mais que vai resolver tudo e não sou um adorador de árvores, mas acho que derrubar essas árvores foi uma pena. Não pelo porte, mas porque não foi algo justificável.
Se o ponto é diminuir o trânsito, porque não fazem de um jeito que não estimule o uso dos automóveis, ao invés de facilitar o uso destes? Por que não pegar o dinheiro todo investido nessa obra para melhorar e ampliar a rede de transporte público? Por que não, ao invés de construir faixas para carros, construir ciclovias pela cidade? 
Ein, por que? 

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Cobertura da greve (das idéias)


Quer saber, vou mostrar quem é que manda aqui. 
Vou demitir uma idéia. Isso mesmo, vou demitir uma idéia.
E qualquer outra que se rebelar vai ver.
Será dizimada por minhas idéas terceirizadas. Rá!

Claro, fui muito ingênuo ao falar tudo isso acima.
São as idéias que me possuem.
O que ocorreu na verdade é que uma idéia, a expressada na primeira frase, não era a favor da greve, muito menos com o diálogo com as outras idéias, e tomou conta de minha cabeça na tentativa de se impor. 
Nisso, outras idéias se uniram às idéias em greve.
Minhas idéias estão em conflito e eu apenas assisto, pois sou apenas o palco desta discussão infinita. Já estou vendo no horizonte outras idéias chegando com escudos, armas e bombas para dizimar idéias que só querem seu direito de se expressarem.


quarta-feira, 17 de junho de 2009

Cobertura da greve não tem fôlego analítico


Por Tatiane Klein em 16/6/2009
Colaboraram Lucas Rodrigues de Campos e Guilherme Balza Corrêa Netto, estudantes de Jornalismo da ECA-USP, e Bruno Mandelli e Daniela Alarcon, jornalistas formados pela ECA


"Invasão" e "confronto" estão entre as palavras centrais. O tipo de cobertura reservado à repressão dos movimentos sociais é aquele que estamos acostumados a ver: manifestantes baderneiros, pautas mostradas de forma desconexa, apoio à ação policial. Com a exceção de fotografias que desmontam a imagem de delinquência construída pelos textos – como as que estão nas primeiras páginas da Folha de S.Paulo (26/5) e do Estado de S.Paulo (10/6) –, no geral, a cobertura é manchada pelo preconceito.
Conforme observou no domingo (14/6) o ombudsman Carlos Eduardo Lins da Silva, a Folha (e o Estadão também) não notou, ou preferiu não notar, o que subjaz ao que vem sendo denominado "crise na USP". Os jornais a tacham como algo "político" e "radicalizado", e que, por sê-lo, não merece crédito ou uma leitura pausada. As reportagens caem com facilidade nesse alçapão, sem prestar atenção ao fato de que quase tudo o que se noticia sobre a USP – desde o começo do ano – tem estritamente a ver com a mobilização atual.
Para esses jornalistas, a greve dos funcionários da USP surgiu como que do nada, teve a "adesão" de professores e estudantes e, na última semana, se "radicalizou" de forma inexplicável, demandando violenta ação policial. Essa leitura estanque dos fatos faz só aprofundar a impressão de falta de consequência política entre os movimentos organizados da USP. Ninguém atentou, entretanto, para o fato de que o único confronto existente nessa conjuntura é a disputa entre projetos distintos para a universidade pública: um, dos manifestantes, que tem como foco a manutenção do caráter público e crítico da universidade, e outro, que se apega à lógica de entidades como o "mercado".
Ávidos por descobrir o grau de adesão à greve em número de unidades paradas, os jornalistas, de maneira geral, esquecem de prestar atenção às falas de estudantes, professores e funcionários nas assembléias que detalham as reivindicações. Os textos não juntam "lé com cré" e não se dispõem a tentar analisar o fenômeno fora da regra geral em que os fatos aparecem, autóctones, às vistas do leitor.

Desrespeito profundo

Sob o título "Curso para professor virou um alvo", matéria publicada no domingo (14) pelo Estadão é a única que se propõe a analisar uma das pautas de forma mais atenta. Ainda assim, o faz sem consultar sequer uma fonte contrária à implantação do Ensino à Distância, como tem sido proposto para as universidades estaduais. Na Faculdade de Educação, na Associação dos Docentes e no movimento estudantil há quem discuta cientificamente a questão e essas pessoas simplesmente não foram procuradas. Por falta de informação, a contrariedade diante da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) vem sendo mostrada como uma pauta ingênua e elitista, contrária à democratização do ensino superior.
Com o título "Dos 16% para o `fora Suely´", matéria também dada no Estadão (14/6) ironiza as pautas com base em um pressuposto falso: o de que, após o início da greve de professores e de estudantes, as reivindicações tenham sido alteradas ao sabor da desordem do movimento. O jornalista esqueceu de consultar a pauta unificada de reivindicações do Fórum das Seis, que congrega as entidades representativas das três universidades públicas estaduais. Ali, a pauta salarial, a readmissão do líder sindical Claudionor Brandão, a contrariedade com a Univesp nos moldes como está sendo proposta, entre outras pautas, já estavam presentes. A adição do "Fora Suely!", conforme testemunham os movimentos, deve-se à presença e ação da PM no campus.
Destaque para a pauta "política de convivência estudantil", que parece ter sido inventada pelo repórter, mas faz referência às políticas de permanência estudantil. No mais, o Estadão não se preocupou em verificar a quantas andam as políticas de permanência estudantil na universidade; de que forma a USP foi expandida (para a Zona Leste de São Paulo, por exemplo) sem ampliação de verbas; como o estatuto da USP tem sido reformado paulatinamente, sem consulta à comunidade. A Associação de Pós-Graduandos (APG), por exemplo, está impetrando um mandado de segurança contra a reitoria da USP por ilegalidades cometidas em votações do Conselho Universitário: nenhuma linha publicada sobre isso.
As reportagens também pecam por não terem consultado documento divulgado pela Associação dos Docentes sobre as perdas salariais dos professores e funcionários das universidades estaduais em comparação com a evolução da arrecadação do ICMS. De 1989 até 2009, as perdas salariais acumularam 42%. O reajuste salarial ganha mais sentido se observada essa queda em relação às arrecadações recordes do ICMS no último ano.
Se parte da comunidade uspiana hoje se insurge contra o projeto de universidade que a gestão da reitora Suely Vilela representa, isso é porque esta administração esteve marcada pelo profundo desrespeito à gestão democrática da instituição. Quando fala em democracia, a imprensa a resume ao direito de ir e vir, evitando expor a greve, os piquetes e as manifestações também como instrumentos democráticos.

O fetiche do "outro lado"

A Folha de S.Paulo, em especial, tem passado sensação de equilíbrio na cobertura mais recente da greve. No entanto, o fetiche de mostrar o "outro lado" como uma forma de supostamente produzir equilíbrio não livra a cobertura do jornal de textos bastante editorializados.
Um elemento revelador dessa orientação é a cronologia "Crise na USP já se arrasta há mais de um mês" (12/6). O texto foge da objetividade factual ao deixar de mencionar acontecimentos importantes para essa greve, como o fato de as negociações da campanha salarial entre o Cruesp (Conselho de Reitores) e o Fórum das Seis terem sido interrompidas unilateralmente pelo primeiro, no dia 25/5. Isso é o que contribuiu para acirrar os ânimos entre as categorias, e não a ocupação de parte da reitoria por um grupo de manifestantes. Tal procedimento desmonta a aura de objetividade da cobertura.
As críticas à ação policial aparentam ganhar força por conta dos ferimentos causados pela PM a um dos funcionários de Folha que trabalhavam na cobertura; e do fato de a reitora Suely ter negado, sistematicamente, entrevistas ao jornal.

Organização sindical como problema

Por que existem piquetes na USP? Esta pergunta não passou sequer perto das redações. Ora: se em qualquer indústria o direito de organização sindical e o direito constitucional à greve deve ser assegurado, e a demissão de grevistas em represália, condenada, também na universidade isso tem de acontecer. Mas as reportagens simplesmente não dão conta de quais tipos de ilegalidade a administração da USP comete contra seus grevistas: se há relatos de assédio moral, por exemplo, o leitor não sabe, nem viu.
A matéria "Líder sindical na USP já fez 12 greves e prega revolta armada", publicada pela Folha (13/6), também dá conta do viés que costura as posições do jornal sobre o sindicalismo. O destaque da manchete e da abertura da matéria para a filiação do líder sindical Claudionor Brandão a uma agremiação política que acredita na revolução armada é o signo do discurso que, subjacente ao texto, desqualifica o movimento. O texto atrela o movimento à violência da "revolta armada" e constrói a esdrúxula certeza de que uma vanguarda do movimento recorreria a armas para expulsar a PM da USP.Além disso, a reportagem parece esquecer que no Brasil, pelo menos desde 1988, há liberdade de organização política. Por certo não são expostos da mesma forma os sujeitos políticos que apoiaram o regime militar no passado.

Atitudes amenas

Ao narrar a ação repressiva da polícia na universidade, os jornais têm se valido das versões de manifestantes, reitoria e policiais, sem relatar o que muitos repórteres viram efetivamente na terça-feira (9/6). Exemplo é o destaque dado para o uso de bombas de suposto efeito "moral". O leitor que nunca esteve perto de uma das granadas de borracha usadas pela PM, não saberá que elas realmente colocam em risco a integridade física dos atingidos. A explosão de uma bomba de efeito "moral" pode causar queimaduras graves, mutilar dedos das mãos, rasgar e penetrar a carne, bem como cegar.
Na USP, a indignação contra o que aconteceu naquela terça-feira é grande e os jornais não estão nem perto de mostrar esse impacto. Dos repórteres que viram parte da comunidade uspiana ser acuada e violentada no interior de uma ambiente que se pretende autônomo, a maioria calou.


sábado, 13 de junho de 2009

Ainda sobre a greve da USP: por Olgária Matos

 
A filósofa Olgária Matos é professora titular daquela que é considerada a faculdade vermelha da USP, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Aposentou-se em 2003, mas acompanha atentamente a vida da instituição, na qual ingressou como estudante no ano anterior à promulgação do AI-5, em plena ditadura militar.
Considera que "a reitora não tem mais condições políticas de se manter no cargo", mas teme que, de novo, "se derrube o tirano sem tocar nas razões da tirania". Abaixo, trechos da entrevista concedida ontem. 

FOLHA - O que deu errado na terça-feira?
OLGÁRIA MATOS - É inadmissível que uma manifestação pacífica de estudantes e funcionários tenha de se enfrentar com a polícia dentro do campus universitário. Os manifestantes podiam até ter objetivos criticáveis -ou não-, mas, desde a Academia de Platão até as universidades modernas, esse recinto é o único preservado da violência policial porque é definido como o local que luta contra a violência, contra a barbárie. É o local em que se produz conhecimento, especulações, ciência. O local que faz parte do repertório da humanidade para se humanizar. Então não é o lugar que comporte a ocupação policial contra uma manifestação de estudantes desarmados.

FOLHA - A reitoria alega que a PM foi usada para impedir a depredação do patrimônio público e o desrespeito ao direito de não grevistas...
MATOS - É preciso garantir o direito de ir e vir de todos os que participam da vida da universidade, é certo. Agora, como se chegou a esse ponto? Parece-me que os canais de contato entre os estudantes e a reitoria ou entre os funcionários e a reitoria estão muito precarizados.
Os funcionários apresentaram uma pauta de reivindicações, o que é algo obviamente legítimo.
Cabe à outra parte discuti-la. Debatê-la. Agora, quando as instituições universitárias não debatem e,em vez disso, optam por enfrentar um protesto pacífico, de pessoas desarmadas, com o emprego de força militar, é porque têm uma sensação muito grande de perseguição. Alguma coisa muito séria está acontecendo com uma universidade que se torna incapaz de debater ideias diferentes. 

FOLHA - Alunos, professores e funcionários exigem a saída da reitora...
MATOS - Do ponto de vista global da instituição, politicamente, aconteceu uma espécie de vazio de poder. Quando se usa a violência, é porque se perdeu a autoridade. A universidade não é o lugar da força ou da violência. É o lugar da autoridade.
Agora, o jogo de forças entre os vários setores da universidade é que vai definir os próximos passos. Tenho certeza de que a atitude da reitora derivou de algum aconselhamento, provavelmente de professores mais conservadores, que a pressionaram a agir dessa maneira. Porque ela não agiria assim sem se sentir respaldada. O que tudo  indica é que a reitora não tem mais condições políticas de se manter.
Na medida em que ela usou a violência, pela simples recusa ao debate, ficou comprometida a sua função institucional como intelectual. O intelectual está lá para impedir o us o das armas. Ainda assim, eu me pergunto se -de novo, e porque é mais fácil- não se estaria derrubando o tirano, em vez das causas da tirania. Você pode substituir o reitor. E depois? É por isso que existe a luta, que não é de hoje, pela democratização das instâncias que elegem o reitor.

FOLHA - A PM deve sair da USP?
MATOS - Imediatamente. A polícia estar lá é quase uma provocação...
Uma sociedade é tanto mais feliz, tanto mais democrática, quanto mais ela conseguir conviver com seus contraditores. Uma sociedade que só é capaz de conversar com o mesmo não é uma sociedade.


quinta-feira, 11 de junho de 2009

Sobre a greve (da USP)


Assista: Fora PM do campus

Não vou falar sobre a causa, as reivindicações, o Brandão e tudo mais.
Não vou falar porque depois do ocorrido parece ser o menos grave e também porque há quatro possibilidades: você está mais por dentro do que eu, você não sabe muito nem faz questão de saber, você não sabe muito e quer saber e se está aqui tem internet, você acha que sabe mais que os próprios estudantes da USP.
Se você é um deste último, apenas assista o vídeo antes de vir bostejar sobre vagabundos maconheiros que você viu no programa do Datena.

Abaixo, um relato de um professor sobre a lamentável terça-feira:

Terça-feira, 9 de Junho de 2009
Relato do Profº Pablo Ortellado (EACH-USP) sobre a barbárie ocorrida na Cidade Universitária da USP.
O seguinte relato nos foi enviado pelo professor Pablo Ortellado, da EACH-USP, em mensagem encaminhada pelo professor Marcelo Modesto (FFLCH), também presente na manifestação pacífica que resultou em confronto violento na Cidade Universitária da Universidade de São Paulo - USP.

"Urgente e importante: tropa de choque na USP

Prezados colegas,

Eu nunca utilizei essa lista para outro propósito que não informes sobre o que acontece no Co (transmitindo as pautas antes da reunião e depois enviando relatos). Essa lista esteve desativada desde a última reunião do Co porque o servidor na qual ela estava instalada teve problemas e, com a greve, não podia ser reparado.

Dada a urgência dos atuais acontecimentos, consegui resgatar os emails e criar uma lista emergencial em outro servidor. O que os senhores lerão abaixo é um relato em primeira pessoa de um docente que vivenciou os atos de violência que aconteram poucas horas atrás na cidade universitária (e que seguem, no momento em que lhes escrevo – acabo de escutar a explosão de uma bomba). Peço perdão pelo uso desta lista para esse propósito, mas tenho certeza que os senhores perceberão a gravidade do caso.

Hoje, as associações de funcionários, estudantes e professores haviam deliberado por uma manifestação em frente à reitoria. A manifestação, que eu presenciei, foi completamente pacífica. Depois, as organizações de funcionários e estudantes saíram em passeata para o portão 1 para repudiar a presença da polícia do campus. Embora a Adusp não tivesse aderido a essa manifestação, eu, individualmente, a acompanhei para presenciar os fatos que, a essa altura, já se anunciavam. Os estudantes e funcionários chegaram ao portão 1 e ficaram cara a cara com os policiais militares, na altura da avenida Alvarenga. Houve as palavras de ordem usuais dos sindicatos contra a presença da polícia e xingamentos mais ou menos espontâneos por parte dos manifestantes. Estimo cerca de 1200 pessoas nesta manifestação.

Nesta altura, saí da manifestação, porque se iniciava assembléia dos docentes da USP que seria realizada no prédio da História/ Geografia. No decorrer da assembléia, chegaram relatos que a tropa de choque havia agredido os estudantes e funcionários e que se iniciava um tumulto de grandes proporções. A assembléia foi suspensa e saímos para o estacionamento e descemos as escadas que dão para a avenida Luciano Gualberto para ver o que estava acontecendo. Quando chegamos na altura do gramado, havia uma multidão de centenas de pessoas, a maioria estudantes correndo e a tropa de choque avançando e lançando bombas de concusão (falsamente chamadas de "efeito moral" porque soltam estilhaços e machucam bastante) e de gás lacrimogêneo. A multidão subiu correndo até o prédio da História/ Geografia, onde a assembléia havia sido interrompida e começou a chover bombas no estacionamento e entrada do prédio (mais ou menos em frente à lanchonete e entrada das rampas). Sentimos um cheiro forte de gás lacrimogêneo e dezenas de nossos colegas começaram a passar mal devido aos efeitos do gás – lembro da professora Graziela, do professor Thomás, do professor Alessandro Soares, do professor Cogiolla, do professor Jorge Machado e da professora Lizete todos com os olhos inchados e vermelhos e tontos pelo efeito do gás. A multidão de cerca de 400 ou 500 pessoas ficou acuada neste edifício cercada pela polícia e 4 helicópteros. O clima era de pânico. Durante cerca de uma hora, pelo menos, se ouviu a explosão de bombas e o cheiro de gás invadia o prédio. Depois de uma tensão que parecia infinita, recebemos notícia que um pequeno grupo havia conseguido conversar com o chefe da tropa e persuadido de recuar. Neste momento, também, os estudantes no meio de um grande tumulto haviam conseguido fazer uma pequena assembléia de umas 200 pessoas (todas as outras dispersas e em pânico) e deliberado descer até o gramado (para fazer uma assembléia mais organizada). Neste momento, recebi notícia que meu colega Thomás Haddad havia descido até a reitoria para pedir bom senso ao chefe da tropa e foi recebido com gás de pimenta e passava muito mal. Ele estava na sede da Adusp se recuperando.

Durante a espera infinita no pátio da História, os relatos de agressões se multiplicavam. Escutei que a diretoria do Sintusp foi presa de maneira completamente arbitrária e vi vários estudantes que haviam sido espancados ou se machucado com as bombas de concusão (inclusive meu colega, professor Jorge Machado).

Escutei relato de pelo menos três professores que tentaram mediar o conflito e foram agredidos. Na sede da Adusp, soube, por meio do relato de uma professora da TO que chegou cedo ao hospital que pelo menos dois estudantes e um funcionário haviam sido feridos. Dois colegas subiram lá agora há pouco (por volta das 7 e meia) e tiveram a entrada barrada – os seguranças não deixavam ninguém entrar e nenhum funcionário podia dar qualquer informação. Uma outra delegação de professores foi ao 93o DP para ver quantas pessoas haviam sido presas. A informação incompleta que recebo até agora é que dois funcionários do Sintusp foram presos – mas escutei relatos de primeira pessoa de que haveria mais presos.

A situação, agora, é de aparente tranquilidade. Há uma assembléia de professores que se reuniu novamente na História e estou indo para lá. A situação é gravíssima. Hoje me envergonho da nossa universidade ser dirigida por uma reitora que, alertada dos riscos (eu mesmo a alertei em reunião na última sexta-feira) , autorizou que essa barbárie acontecesse num campus universitário.

Estou cercado de colegas que estão chocados com a omissão da reitora. Na minha opinião, se a comunidade acadêmica não se mobilizar diante desses fatos gravíssimos, que atentam contra o diálogo, o bom senso e a liberdade de pensamento e ação, não sei mais.

Por favor, se acharem necessário, reenviem esse relato a quem julgarem que é conveniente.

Cordialmente,

Prof. Dr. Pablo Ortellado
Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Universidade de São Paulo"



sábado, 6 de junho de 2009

Greve das Idéias


Minhas idéias entraram em greve e eu, que achava que as submetia sob meu poder, vejo que sou, na verdade, escravo delas.
Essa idéia de greve das idéias, por exemplo, como as minhas, ou melhor dizendo, as que me possuem, estão em greve, peguei do blog escondido sob o link Mundaréu, aqui bem do lado direito da tela, tá vendo?
C`est la vie, mon ami. 
Minhas idéias se recusam a trabalhar, então tive a idéia de terceirizar, roubar ou comprar no mercado negro. 
Aliás, esta idéia também não é nova nem é minha. 
Se bobear, deve ser a idéia mais antiga que a humanidade já teve, o que me faz pensar que nenhuma das idéias que tenho são de fato minhas, o que, por sua vez, me faz pensar na seguinte questão: de onde vêm as idéias?
Hum, acho que tive uma idéia! (Ou será que ela me teve? Também não se de onde ela veio nem sei se é minha.)
Vamos ver para onde ela me leva...