sábado, 30 de agosto de 2008

Paciente 561


- Sabe, você deveria sair um pouco de seu quarto.
- Há, tá louco é, doutor? Só tem gente maluca neste hospício.
- Mas ir lá fora, no pátio, fará bem à sua saúde. Sabe, respirar um pouco de ar fresco...
- Não é seguro, doutor, já falei. Vai que um desses loucos aí me ataca quando eu estiver desprevenido? Essa gente não é normal, são completamente imprevisíveis. Ontem mesmo, a gordinha do 35 ficou rebolando pelada no corredor.
- Bom, mas ficar sozinho durante muito tempo neste quarto não vai te fazer bem algum.
- Tem razão, aqui também não é nada seguro. Posso mudar de quarto?
- Mas por que razão você acha que aqui não é seguro?
- Terceiro andar, qualquer dia desses a estrutura pode ceder, estou longe da saída em caso de incêndio... Quero um quarto no subsolo.
- Mas não temos subsolo...
- Que falta de segurança ein, doutor! Prédios ficam expostos a todo tipo de objeto voador, e todo objeto voador pode cair, um avião, um asteróide, um helicóptero, um disco voador...
- Ééééé... vamos ver, você não gosta de esportes? Futebol, talvez?
- Não, eu posso me machucar, quebrar a perna e até ter problemas cardíacos por esforço físico demasiado.
- Então que tal xadrez? Você que é inteligente se daria muito bem.
- Sim, obviamente eu seria um bom jogador, mas o adversário, ainda mais neste hospício, pode ter reações agressivas se perder, como enfiar a torre no meu cu e furar meus olhos com o bispo.
- Olha, você sabe muito bem porquê você está aqui. Seu irm
- Meu irmão é quem está louco! Ele fez sua cabeça, doutor! Eu estou muito bem e
- Pessoas normais não ficam sete meses trancafiados em sua própria casa. Sair e conviver com pessoas é o primeiro passo para ficar bem de verdade.
- Não saía
nos dias de chuva porque podia escorregar, quebrar a coluna e ficar tetraplégico e nos dias de sol porque um motorista distraído podia me atropelar e fazer de mim um vegetal, e nenhuma das duas opções, para mim, é estar vivo.
- Mas, pelo que consta no relatório, você também não recebeu ninguém em sua casa, além de seu irmão.
- Bom, na verdade eu não o recebia, ele invadia minha casa, me deixando exposto a milhões de vírus e bactérias que ele trazia consigo.
- Entendo, entendo, entendo. Sabe, se você colaborar com o tratam

- Não vou colaborar coisa nenhuma porque, quantas vezes tenho de repetir, não sou louco! Meu irmão veio aqui, fez sua cabeça e agora estão ambos conspirando contra mim. Tenho de sair daqui imediatamente!
- Não, espere! Enfermeira! Traga um sedativo, rápido!
- Não, doutor, e se a enfermeira for uma paciente disfarçada e quiser me matar com uma injeção letal?
- Acalme-se, não há nada de letal nesta seringa.
- Mas pode ser heroína ou soro da verdade ou até mes
- Ufa... enfermeira, traga uma maca e encaminhe-o para a ala 4.


quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Vôo 667


*tum* acende o sinal para apertar os cintos.


- Atenção senhoras e senhores passageiros, devido a repetidas e alternadas rodadas de inalação de altas quantidades de produtos narcóticos de duvidosa procedência, o comandante e o co-piloto estão temporariamente incapacitados de pilotar e de pousar a aeronave com segurança. Dentro de instantes, entraremos em rota de colisão com os Montes Apalaches, lembrando a todos que no momento derradeiro, máscaras de oxigênio cairão automaticamente. Obrigada por voar com a Oceanic Airlines e façam todos uma ótima viagem! (sorriso)

- Ladies and gentlemen, due to inhalation of high quantities of narcotic products of unknown source, our commander and our co-pilot are temporarily incapable of piloting and landing the airplane safely. Soon, we will be in a colision route with the Appalachian Mountains, reinforming all passengers that at the critical moment, oxygen masks will automaticaly fall from the overhead compartments. Thank you for flying with Oceanic Airlines and have a good evening! (smile)




- Aeromoça, me vê um uísque sem gelo. Duplo. Por favor.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Nota sobre programas infantis

Li uma matéria esses dias que falava sobre os Power Rangers e alguns outros programas infantis.
A pedagoga entrevistada afirmava que, apesar de mostrar pelo maniqueísmo que o bem e os valores morais são superiores ao mal, infelizmente ensina aos pequenos que a paz só se dá pelo uso da violência e da força bruta, sendo que o ideal seria o programa mostrar que na vida, a resolução de problemas pode se dar também por outros meios.

De acordo.

Todavia, lembrei que não só os Power Rangers, mas clássicos que marcaram minha infância como Cavaleiros do Zodíaco, Jaspion e mesmo Tom & Jerry ou Pica-Pau (sendo que estes dois muitas vezes mostravam que o mal compensava muito bem), também mostravam que tudo se resolve na base do Cólera do Dragão, Espada Olímpica, bombas, dinamite, marretas, pianos como peça de artilharia, armadilhas entre outros, mas nem por isso minha geração termina um namoro com Meteoro de Pégasus ou esconde uma dinamite no sanduíche do chefe da empresa.

Além disso, mostrar idiotas vestidos com
um capacete e com uma roupa colorida coladinha numa assembléia com monstros de resina e isopor decidindo democraticamente quem ganhará, certamente não atrairia as crianças. Elas gostam de faíscas.
Talvez se os monstros intergaláticos pudessem mexer os braços, eles pudessem resolver as coisas com os mocinhos multicoloridos numa partida de poker.
Ou os Rangers poderiam passar para o lado de lá, afinal, quando um não quer, dois não brigam.

Ora ora, mas, convenhamos, temos de ensinar as gerações futuras como a vida é.
Pensei em um episódio em que o líder vermelho desvia dinheiro dos outros e suborna os monstros para que eles invadam outro planeta e um outro episódio em que a gostosa seduz o alienígena que manda nos imbecis que destróem cidades de isopor, dá o golpe do baú, resolve os problemas e ainda ganha pensão.

Falando sério agora, o ideal mesmo seria que as crianças passassem menos tempo em frente à televisão e que os pais disponibilizassem mais tempo para conversar, brincar, educar e esclarecer as coisas para os filhos.
Além do mais, hoje existe uma gama enorme de programas e canais voltados para o público infantil, alguns voltados para lutas armadas entre o bem e o mal e outros que visam a educação e o aprendizado da criança.
Basta os pais esclarecerem e orientarem seus filhos.
Mas, no final das contas, para quê diabos fazer isso, se podemos cobrar dos empresários que investem em programas infantis para educar os pimpolhos para nós?



segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Nota sobre a Modernidade Líquida


"Na modernidade líquida, tudo é volátil, as relações humanas não são mais tangíveis e a vida em conjunto perde consistência e estabilidade. A solidez das instituições sociais, (do estado de bem-estar, da família, das relações de trabalho, entre outras) perde espaço, de maneira cada vez mais acelerada, para o fenômeno de liquefação. De acordo com essa metáfora, a concretude dos sólidos, firmes e inabaláveis, derrete-se irreversivelmente, tomando, paradoxalmente, a amorfabilidade do estado líquido.
Fluidez, maleabilidade, flexibilidade e a capacidade de moldar-se em relação a infinitas estruturas, são algumas das características que o estado liquefeito conferirá às tantas esferas dos relacionamentos humanos citados anteriormente. Como conseqüência, vivemos um tempo de transformações sociais aceleradas, nas quais as dissoluções dos laços afetivos e sociais são o centro da questão. A liquefação dos sólidos explicita um tempo de desapego e provisoriedade, uma suposta sensação de liberdade que traz em seu avesso a evidência do desamparo social em que se encontram os indivíduos moderno-líquidos."

Por alguma razão, sempre que ouço falar em Modernidade Líquida, me vem a imagem metafórica do oceano, cuja superfície é a única parte visível e cujas profundezas são desconhecidas.